quinta-feira, 3 de junho de 2010

Salinas Rio Maior

Em Rio Maior mesmo com a chegada do Verão, do alto da Serra dos Candeeiros descem os agricultores para se dedicarem a um outro tipo de actividade não menos dura: as salinas. Algumas dezenas de famílias encontram nos meses de Junho a Setembro um complemento aos rendimentos muitas vezes escassos da agricultura.

Será possível existir sal em terra?

Rio Maior não tem mar. Ainda assim, por aqui consegue-se extrair sal. Confuso? Segue-se a explicação. Há milhões de anos atrás, na estranha batalha entre terra e mar, saiu triunfante a primeira e o mar, humilhado, viu-se obrigado a recuar 30 quilómetros. Porém, não quis que caísse no esquecimento a sua passagem pelo local e, a lembrar os tempos que por cá andou, deixou um lago que acabou por secar. Mal saberia ele da importância deste seu legado aos homens de Rio Maior. Ainda hoje a jazida continua a produzir o sal que, segundo estudiosos, é sete vezes mais mineralizado que o do mar. Está dada a explicação.Em épocas mais distantes, o sal teve um papel de destaque nas vidas dos povos. Para além de condimento, era utilizado como forma de conservação dos alimentos e de materiais naturais como peles e couros. Pouca gente sabe é que chegou a servir como moeda de troca, e, inclusivamente, como pagamento de jornadas de trabalho. É daí que vem a palavra salário.

Como é que se faz?


Desde os primeiros tempos de funcionamento das salinas que a paisagem natural circundante e os seus métodos de fabrico não mudaram tanto assim. Rodeadas de arvoredo e de hortas de cultivo, onde a vinha tem um destaque dominante, labirínticos conjuntos de talhos em cimento (divisões de tamanho irregular pouco profundas) aglomeram-se à volta de um poço comunitário de 9 metros de profundidade. Ao todo são 450 talhos. A diferença mais marcante em relação a outros tempos é a forma como se eleva a água do poço. Hoje retirada com o auxílio de um potente motor, anteriormente era extraída através de duas picotas gigantes, que apesar de tudo ainda se encontram no local, a relembrar tempos antigos. De resto, todo o processo é rudimentar. Até há pouco tempo, trabalhava-se dia e noite por aqui. Cada marinheiro, (como é conhecido o trabalhador das salinas), tinha que retirar cerca de uma centena de baldes de água seguidos, dificuldade agravada pela falta de iluminação e cansaço. Prevenindo males maiores, foi colocada uma escada no poço (ainda hoje existe lá uma) para que, caso caíssem nele, os trabalhadores pudessem rápida e facilmente sair e continuar a tarefa. É que mesmo não sabendo nadar, as águas contendo altos níveis de cloreto de sódio permitem flutuar e evitam o afogamento.
E agora?


Agora, relativamente à extracção do sal, o processo é o mesmo das salinas de mar. Sol e vento tratam da evaporação, ficando a tarefa do ajuntamento do sal do fundo dos talhos destinada aos marinheiros auxiliados por rodos e pás de madeira. O mineral é posteriormente levado em cestos de vime para as eiras onde seca constituindo autênticas pirâmides brancas. Depois de seco, é transportado às costas em sacos de juta e recolhido em pequenas casas construídas em madeira por ser mais difícil a corrosão provocada pelo sal. Até as fechaduras e respectivas chaves são do mesmo material… Complementando a paisagem, está a típica taberna, que funcionava apenas durante a época de trabalhos. Naquela altura, o taberneiro, cuja memória muitas vezes o atraiçoava, resolveu a velha questão do fiado de uma forma prática e eficaz. Numas réguas de madeira com mais de um metro de comprimento e pouco mais de 10 centímetros de largura assentava as dívidas de cada freguês, correspondendo cada uma a um cliente. Como geralmente estas pessoas dos negócios são bastante pragmáticas, permaneciam as tábuas escritas com sinais convencionais mas compreendidos por todos, nas paredes do estabelecimento, para que o cliente não se esquecesse que estava em dívida e, melhor do que isso, que tomasse conhecimento do montante. E depois porque sabendo os outros daquilo que cada um deve, é mais fácil pensar em pagar… em sal, claro!·



Curiosidade:
A 3 Km da cidade de Rio Maior pode encontrar as Salinas naturais de Rio Maior.



















http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Maior