quarta-feira, 2 de junho de 2010

Células Estaminais




CORDÃO UMBILICAL - UM SEGURO DE VIDA?





As células estaminais têm sido um dos focos de atenção dos investigadores a nível mundial.
Em Portugal funcionam 5 bancos privados de criopreservação de sangue do cordão umbilical.
O processo envolve várias fases. Primeiramente, os pais que desejem proceder a esta conservação pagam o kit de recolha de sangue devidamente esterilizado (100-125 euros) que é levado para a sala de partos. O médico obstetra responsável pelo parto faz a recolha do sangue. Depois são os pais que recebem a amostra e ficam responsáveis pelo seu encaminhamento para o banco de criopreservação.
A conservação por criopreservação só é possível depois de diversas análises a esta amostra de sangue, com a finalidade de constatar o estado da amostra recolhida e proceder à contagem de células estaminais. É necessário um mínimo de 10000 células, número que geralmente é conseguido com a recolha de cerca de 30mL de sangue. Em caso de número insuficiente de células, a empresa contacta os pais revelando a impossibilidade de proceder à conservação.
Se se reunirem todas as condições necessárias à conservação do sangue, os pais são informados e procede-se então ao processo de criopreservação, cujas baixas temperaturas fazem cessar todos os processos biológicos, permitindo assim a conservação.
Os bancos de criopreservação oferecem a escolha de contratos de 20 ou de 25 anos de conservação, que ao fim desse tempo pode ou não ser renovado. O serviço completo pode custar entre 900 a 1250 euros, consoante o contrato escolhido. Em caso de não renovação, é dada autorização para a destruição das células.
Normalmente, o uso das células é para o próprio. Mas pode eventualmente servir para utilização heteróloga, para um irmão, embora a compatibilidade seja claramente reduzida.
As células estaminais são pluripotenciais, ou seja, são células indiferenciadas que podem ser transformados em todos os tipos de tecidos do corpo humano. Tudo depende depois da capacidade de indução técnica através de estimulação própria que promova a diferenciação destas células.
Têm sido desenvolvidos inúmeros estudos com base nas células estaminais para combate de doenças tão comuns como o cancro, diabetes, alzheimer, esclerose múltipla e para a produção de tecidos lesionados ou de órgãos (coração, fígado).
Um caso de sucesso foi vivido no Instituto Português de Oncologia, em que se procedeu ao transplante de células estaminais de um cordão de um rapaz para combater a leucemia agressiva da irmã Inês (3 anos). Este sucesso ganha uma dimensão ainda maior se tivermos em conta que não havia uma compatibilidade completa e que as células tinham uma elevada percentagem de contaminação por células maternas.
O transplante de células estaminais oferece inúmeras vantagens, particularmente em casos de leucemias, doenças metabólicas, doenças do sistema imunitário, … Relativamente aos transplantes de medula óssea, as principais vantagens relacionam-se com as exigências de compatibilidade. São possíveis maiores diferenças de compatibilidade em células estaminais, já em transplantes de células da medula óssea a exigência de compatibilidade tem de ser muito maior, devido ao maior conflito imunológico.
No entanto, enquanto que nos transplantes de medula óssea o maior problema é a rejeição das células pelo sistema imunitário do doente, que assim rejeita os enxertos; nos transplantes de células estaminais pode ocorrer uma outra situação: doença do enxerto contra o hospedeiro, ou seja, nesta caso são as próprias células estaminais que “atacam” o doente que as recebe.
Foi isto que aconteceu a uma criança à qual foi diagnosticada uma leucemia. Os pais, depois de informados acerca das vantagens e desvantagens dos transplantes de medula óssea e de células estaminais, optaram pelo transplante com células plutipotenciais. Dias depois do transplante, a criança parecia estar a reagir bem, mas de repente começou a desenvolver febres muito altas. Tinha desenvolvido a doença do enxerto contra o hospedeiro. Vários órgãos começaram a entrar em falência e a criança acabou por não resistir.
Outra das limitações deste método é o reduzido número destas células presentes no sangue do cordão umbilical, o que apenas favorece o transplante em crianças. Esta limitação está a tentar ser combatida, através do estudo de três vias diferentes: a multiplicação de células em laboratório; a combinação de transplantes – transplante haploidêntico e transplante do sangue do cordão; e a
via mais promissora que é a da utilização de mais do que um sangue de cordão umbilical (dois ou três dadores diferentes), na qual se verifica um grau de colaboração entre elas, embora no final só um é que vença.
Ainda só se conhece um caso de sucesso de autotransplantação de células estaminais.
Actualmente, cerca de 28000 pessoas já têm sangue do cordão umbilical conservado no nosso país. Apesar de ser importante a criação de um banco nacional de dadores de células estaminais esta é apenas mais uma das despesas para um SNS com muitas outras falhas prioritárias.
Em Portugal falta informação mais clara dada por estes bancos privados, falta legislação para controlar a actividades destes bancos.
São cerca de 5000 as grávidas que procuram todos os anos estes serviços.

Apesar das promissoras e variadas aplicações que a evolução da Medicina parece reservar às células estaminais do cordão umbilical conservadas, a falta de resultados consistentes é ainda uma inquietante certeza. Resta acreditar na ciência e nas enormes soluções que ela nos poderá trazer. É um risco dispendioso e incerto, mas simultaneamente uma aposta que poderá salvar vidas.